Liceu do Ceará
 Liceu do Ceará
 Liceu vem do grego lykeion, escola filosófica com ênfase para ciências 
naturais criada por Aristóteles em 336 a.C., rival da Acadêmica Platônica.
O Liceu de Aristóteles se tornou um modelo de ensino do antigo curso
de humanidades, de modo a inspirar o estabelecimento de várias instituições de ensino,
principalmente o ensino secundário e o profissionalizante, que em justa
homenagem, recebem o nome de Liceus.
naturais criada por Aristóteles em 336 a.C., rival da Acadêmica Platônica.
O Liceu de Aristóteles se tornou um modelo de ensino do antigo curso
de humanidades, de modo a inspirar o estabelecimento de várias instituições de ensino,
principalmente o ensino secundário e o profissionalizante, que em justa
homenagem, recebem o nome de Liceus.
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| Sede do Liceu na Praça dos Voluntários, Centro de Fortaleza. Desenho de Gustavo Barroso, ex-liceísta | 
 O  Liceu do ceará é o terceiro colégio mais antigo  do Brasil e, mesmo  tendo passado por várias crises, no ano de 2005, comemorou  seus 160  anos ininterruptos de funcionamento. 
 Foi  criado no período imperial (século XIX),  assim como alguns colégios  contemporâneos de outras províncias, inspirado nos  moldes do Colégio  Dom Pedro II, uma instiuição-modelo de ensino criada em 1837  no Rio de  Janeiro, então capital do império. No intuito de agregar cadeiras já   existentes e facilitar a inspeção do ensino público no Ceará, em 15 de  julho de  1844, o presidente da província, Marechal José Maria da Silva  Bittencourt  sancionou a lei n.º 304, criando oficialmente o Liceu:
 “Art.  1º - Fica  creado nesta capital um lycêo que se comporá das cadeiras  seguintes: phylosophia  racional e moral; rethorica e poética;  arithmetica; geometria; trigonometria;  geografia, e historia; latim,  francez e inglez.” 
 As atividades escolares tiveram início em 19 de  outubro de 1945, com 98 matrículas, sob direção do Dr. Thomas Pompeu de Souza  Brasil, o Senador Pompeu.  O curso secundário tinha duração de 6 anos e, de  início, as aulas eram  ministradas nas próprias casas dos professores. Somente em  1894, no  governo do Coronel Bezerril Fontenele, foi inaugurada a sede própria do   Liceu (figura 1), à Praça dos Voluntários, no centro de Fortaleza. 
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|        Figura  1 –        Edifício do Liceu na praça dos voluntários (já demolido),  onde hoje se        encontra o prédio da Polícia Civil. Foto do acervo  do Museu da Imagem e do        Som do Ceará (MIS). | 
 No  tempo em que o Liceu foi criado, Fortaleza era  uma pequena cidade com  pouco menos que 5.000 habitantes, resumindo-se a poucas  ruas no centro  da cidade. Nessa época, os colégios eram privilégio da elite. Não   apenas porque os colégios eram poucos, mas também pelos custos que  representavam  a uma sociedade pobre em recursos. Além disso, na época  era comum em colégios  públicos a cobrança de taxas, como ocorria  inclusive no Colégio Dom Pedro II,  que reservava poucas vagas para  pessoas que não tinham condições de pagar.
 Com  o crescimento da cidade e o surgimento de  novos colégios, como a  Escola Normal, o Colégio São João, Colégio Fortaleza, o  Cearense, São  José, entre outros, o ensino secundário foi se democratizando em   Fortaleza, e inclusive no Liceu, que no século XX, passou a ter maior  abertura  para alunos pobres e oferecer o ensino misto, pois durante  muito tempo foi um  educandário estritamente masculino. As moças  estudavam na Escola Normal.
 Todos  os ex-liceístas que estudaram até a década  de 50 lembram o rigor da  disciplina no Colégio. Os alunos só entravam no colégio  de fardamento  completo: calça, camisa com os 7 botões fechados e quepe. Numa  época em  que os costumes da sociedade eram muito mais rígidos, a disciplina   marcou profundamente o Liceu. Qualquer deslize era motivo de punição.
 Para  ajudar o diretor e os professores no  controle da disciplina, existiam  os bedéis (inspetores), que fiscalizavam o  fardamento dos alunos na  entrada do colégio, faziam a chamada em sala e  circulavam pelo colégio  observando o comportamento dos alunos. Blanchard Girão,  no seu livro “O  Liceu e o Bonde” relata que os bedéis, extremamente fiéis,  delatavam  as travessuras dos alunos para o diretor até fora do colégio; e quando   não era mais possível suspender um aluno, por ter feito travessuras  depois das  provas finais, a suspensão vinha no início do ano letivo  seguinte.
 Mesmo  toda a disciplina da época não conseguiu  anular as criancices dos  alunos, e até os mais ilustres ex-liceístas cometeram  suas travessuras:  aplicaram trotes, fugiram do colégio para matar aula,  aprontaram com  os bedéis, professores e outros alunos, fizeram pichações, e   reuniram-se para fumar no banheiro.
 Mas  nada disso os impediu de tornarem-se  admiráveis seres humanos, uma vez  que estavam cercados pela elite cultural  cearense e tinham formação da  mais alta qualidade.
 Os  professores do Liceu eram os melhores do  estado e, às vezes, até de  fora, pois para ser professor catedrático do Liceu  era necessário  passar por um rigoroso concurso público, tendo que defender tese  e  mostrar todo seu conhecimento e integridade moral. Além disso, os  professores  trabalhavam motivados: eram amplamente respeitados  e  admirados pelos alunos e o  resto da sociedade. Ser professor era uma  das mais nobres profissões e os  salários dos professores equiparavam-se  aos de desembargadores.
 A  escola funcionava e a educação realmente  acontecia pois os professores  eram bons, trabalhavam motivados e os alunos  tinham interesse em  aprender. Esses recebiam uma formação multidimensional. Além  das aulas  teóricas de português, matemática, história, biologia, etc, tinham   aulas de música, praticavam esportes olímpicos, tinham formação política   extracurricular e um grande crescimento pessoal devido à convivência  com alunos  de diferentes classes sociais.
 Como  diz Blanchard Girão, o Liceu era um espaço  de politização e  mobilização estudantil, uma vez que os professores já admirados  elos  alunos, tinham total liberdade para discutir com os alunos os assuntos  mais  polêmicos da atualidade. O Liceu formava então alunos politizados e  também  atuantes. Era comum ver os alunos do Liceu em passeatas  agitadas pelo centro de  Fortaleza, protestando contra o aumento dos  salários dos deputados estaduais, à  favor da anistia de presos  políticos ou contra o nazismo, durante a segunda  guerra mundial (figura  2).
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|        Figura  2 –        Alunos do Liceu na época da II Guerra Mundial (Estado Novo),  em passeata a        favor da democracia e contra o fascismo. Foto do  livro “O Liceu e o Bonde”        de Blanchard Girão. | 
 Por  tudo isso,  até a metade do século XX, o Liceu foi o expoente da  educação no Ceará.  Matricular-se no Liceu era tanto quanto ser aprovado  no vestibular. Os alunos  tinham orgulho de vestir sua farda. O liceu  se projetava em todos os planos:  tinha o melhor corpo docente, os  melhores estudantes, o maior índice de  aprovados em vestibulares,  campeão de olimpíadas estudantis, vitorioso nas  paradas cívicas da  Semana da Pátria, a tinha a melhor banda, além de ex-alunos  bem  sucedidos nas mais diversas profissões no Brasil e no exterior.
 Tamanho  era o privilégio de estudar no Liceu, que  os veteranos rotineiramente  aplicavam trotes aos novatos, que eram chamados de bichos-fedorentos, como ilustra Gustavo Barroso, ex-liceísta do início do  século XX, no seu livro Liceu do Ceará:
 “Não  houve  bicho fedorento que escapasse totalmente aos trotes dos  desalmados veteranos do  Liceu. Todos fizeram discursos bestialógicos  trepados na margela do cacimbão da  praça, em riscos de cair lá dentro.  Todos subiram ao cocuruto do chafariz  Wallace, para fingir de estatua.  Todos se escancharam nos galhos das árvores e  fôram cassados a caroços  de monguba, como guaribas. Um dia encheram de estrume  fresco de cavalo o  boné de xadrezinho que eu trazia do colegio e m’o enterraram  até as  orelhas. Lavei a cabeça, mas o boné ficou imprestavel e teve de ir para o   lixo.” 
Com  toda sua  qualidade de formação dos alunos e seu ambiente de erudição, o  Liceu produziu  inúmeros intelectuais, políticos, escritores,  jornalistas, médicos, empresários,  desportistas e músicos de projeção  nacional e internacional – personagens  importantíssimos da história de  Fortaleza, do Ceará e do Brasil. Entre eles:  Adolfo Bezerra de Menezes,  Guilherme de Studart (Barão de Studart),  Gustavo  Barroso, Rodolfo Teófilo,  João Brígido,  Clóvis Beviláqua, Eleazar de Carvalho,  Raimundo Girão, César Cals de  Oliveira, Farias Brito, Plácido Castelo, Perboyre  e Silva, Parsífal  Barroso, Antônio Girão Barroso, Paes de Andrade, Edson  Queiroz,  Blanchard Girão, Fausto Nilo e Belchior. Além do “Bando Liceal”, do   qual surgiram bandas de ex-alunos como “Quatro azes e um coringa” e os   “Vocalistas Tropicais”, que fizeram sucesso em todo Brasil nas décadas  de 40 e  50.
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|        Figura  3 –        Prédio onde o Liceu funciona desde 1937, na praça Gustavo  Barroso (antes,        Praça Fernandes Vieira), no bairro de  Jacarecanga. | 
 Hoje  o Liceu é mais um colégio da rede estadual  de ensino público. Oferta o  curso de Ensino Médio – EM e funciona nos três  turnos. Pela manhã e  pela tarde, são em média 9 turmas por série (1º, 2º e 3º  ano) e duas  turmas de pré-vestibular. Pela noite, há 5 turmas de cada série e 6   turmas de pré-vestibular. No total são 30 turmas de manhã, 29 de tarde e  21 de  noite. Cada turma possui no máximo 40 ou 60 alunos, dependendo  do tamanho da  sala. Devido à evasão, no período diurno as turmas  possuem em média 40 a 50  alunos, e no período noturno, no qual a evasão  é maior, possuem em média 30 a 40  alunos.
 
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